Sunday, 24 May 2009

Vamos extinguir os sacos de plástico assassinos?

"A ideia de voltar a este tema recorrente veio depois de ver no youtube as imagens de uma baleia a morrer nas praias da Austrália. O que me impressionou não foi tanto a visão de um animal daquela imponência agonizar num meio que não é o dele, mas o que veio a descobrir-se ser a causa da morte - um estômago cheio de sacos de plástico (...) A pobre baleia, e como ela milhares de outras todos os anos, confunde os objectos flutuantes, translúcidos e amorfos com lulas, alforrecas (...) O saco de plástico, sendo resistente ao sistema digestivo do cetáceo, acumula-se até não haver espaço para mais nada. Outra causa de morte não menos vulgar e que também mata milhares de tartarugas é a asfixia que ocorre quando o plástico resolve passear pelas vias aéreas.

A origem de todos estes sacos é evidente - os consumidores, que adoram trazer pilhas deles do supermercado para depois os deitarem para o lixo ou simplesmente deixá-los a voar; e os supermercados, na febre da concorrência desenfreada, não têm coragem de limitar os sacos disponibilizados ou mesmo avançarem para a sua abolição completa. (...) Por cá, alguns supermercados [Pingo Doce] tiveram a iniciativa de começar a cobrar um valor, quase simbólico, pelos sacos de plástico, e chegam mesmo a fornecer gratuitamente grandes sacos reutilizáveis com muito bom aspecto.
No entanto, essas medidas foram insuficientes e talvez mal compreendidas. Um comentário que ouvi mais do que uma vez era: porque é que o supermercado que já ganha tanto ainda precisa de ganhar com os sacos? É óbvio que se na porta ao lado se dá magotes de sacos de plástico e as próprias senhoras da caixa nos estimulam a embrulhar as compras em dois ou três, aqueles mais distraídos ou ignorantes pensam que estão a ser explorados quando os tentam desincentivar ao uso do material perigoso.

Uma solução - eu sei que muito pouco popular - era retirar os sacos de plástico frágeis e colocarem à saída sacos bem fortes e resistentes [mais dificilmente descartáveis] a um preço significativo (...) Outras soluções passam pelo uso de plástico biodegradável (à base de milho), de sacos de papel ou da recuperação dos velhos cestos de fabrico artesanal. É óbvio que o consumidor não se pode pôr de lado desta discussão como um pateta à espera que alguém tome a decisão por ele. (...) Mesmo os que continuarão a levar os sacos tradicionais de plástico frágil enquanto estiverem disponíveis têm o dever e a responsabilidade de garantir o destino de um material tão prejudicial. A partir daqui só há duas soluções aceitáveis: a reutilização até à exaustão do saco ou a reciclagem. Todas as outras hipóteses - no lixo comum ou a voar por aí - são inaceitáveis. (...)


Os sacos plásticos sobrevivem no ambiente durante 15 a mil anos; só no Pacífico estão a flutuar neste momento mais de quatro milhões de toneladas de plástico; o consumo de sacos de plástico pela sociedade moderna é impressionante. (...) Por ano, morrem mais de cem mil animais marinhos por acção directa do plástico. As principais vítimas são tartarugas, cetáceos, albatrozes e outras aves e peixes. Está no nosso saco a forma de parar tanta mortandade"

Tomás de Montemor in Notícias Magazine, 24 Maio 2009

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